"Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas", dizia o poeta Mário Quintana. Mas, talvez, antes de mudar o mundo seja preciso alterar a realidade brasileira. Este não demonstra ser um país de leitores. O último levantamento do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), de 2006, considerado o mais importante do mundo em educação e realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos comprova isso. Cerca de 400 mil alunos de 15 anos, de 57 países, fizeram a última prova.
Em leitura o Brasil ocupa apenas a 49ª posição.A situação é crítica. Fazemos parte do grupo de países que têm mais de 50% dos estudantes com dificuldades para usar a leitura como meio para adquirir conhecimentos em outras áreas. Lado a lado de países como Azerbaijão, Qatar, Quirguistão, Indonésia, Tunísia, Montenegro, Colômbia, Romênia, Sérvia e Bulgária. Na média, os estudantes do país do futebol conseguem apenas localizar informações ou reconhecer temas de um texto, habilidades do nível 1, a mais básica entre as cinco categorias possíveis. Lamentavelmente é pedir demais aos brasileiros avaliados que organizem informações, apontem o que é mais relevante no texto, avaliem criticamente e demonstrem compreensão aprofundada do conteúdo lido. No último estudo que realizou, denominado “Retratos da Leitura” a Câmara Brasileira do Livro (CBL) aponta deficiências semelhantes e revelou a leitura de 1,8 livro anual per capita no país. Mostra ainda que a escolaridade é o principal determinante para o maior ou menor distanciamento da leitura de livros. Hábito apreciado apenas por 1/3 da população adulta alfabetizada.Maria Augusta da Nóbrega Cesarino, superintendente de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais, revela que dos 55,6 mil cadastros para empréstimo domiciliar da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, pouco mais de 20 mil são de pessoas até 24 anos, o que representa 36% do total. “No interior, em média, o público predominante são crianças até 12 anos. Nessa faixa etária se lê bem mais do que na adolescência, quando a preferência é por atividades em grupo”, revela. Maria Augusta acredita ainda na influência da qualidade da literatura infantil e adulta no Brasil. “No entanto, a literatura para o jovem ainda está se consolidando. Ela precisa se adequar melhor ao formato e ao gosto desse público”, enfatiza. “A biblioteca tem obrigação de incentivar a leitura. Recebemos pessoas pelas razões mais diversas. Cabe aos colaboradores atuarem como animadores culturais. Saber identificar o perfil do leitor, o que gosta e recomendar”.
Hábito
Márcio Serelle, professor dos mestrados em letras e comunicação da PUC Minas, confessa estranhar a defesa pelo incentivo à leitura. “Acredito que o livro deveria estar incorporado de maneira natural nos ambientes. Sem tanta reflexão sobre a prática. Assim como a pessoa liga naturalmente a TV, o computador ou vai ao cinema, deveria abrir um livro e ler. Fazer parte do cotidiano”, defende. Para ele, a melhor maneira de uma criança aderir a esse hábito e mantê-lo é pelo exemplo. “O acesso ao livro é fundamental. Ele precisa estar à mão. Se freqüentemente vê os pais lendo, a tendência é absorver a prática. Mas isso é natural, onde nada é forçado. Quando se tem o hábito, não precisa assumir o discurso de defesa da leitura. As pessoas ao redor percebem”, avalia. Ciente de que há várias mídias, em muitos casos convergentes, o professor não acredita num abandono completo da leitura. “Embora exista esse contexto múltiplo de textos, percebo nos meus alunos a compreensão de que há um nível de mediação entre o indivíduo e o mundo específico da literatura, suas particularidades. A leitura permite maior assimilação, é mais reflexiva, tem uma interação bem própria”, esclarece.
Fonte: Estado de Minas
Comentários