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Religião - Evangélicos em Juiz de Fora

Evangélicos já são 20% da
população em Juiz de Fora

FOTO Olavo Prazeres 30-10-07 : ritual de emancipação espiritual Comunidade Igreja em Células

Renata Brum
Tribuna de Minas

Os evangélicos já representam um quinto da população de Juiz de Fora. Levantamento realizado pelo Conselho de Pastores (Conpas) considerando números repassados pelas lideranças de todas as igrejas, mostra que, em 2002, os evangélicos representavam 13,15% da população do município, ou seja, cerca de 60 mil. Hoje, o número já ultrapassa a marca dos cem mil seguidores, distribuídos em 900 templos e comunidades (1ª página).
Juiz de Fora assiste a uma explosão do número de evangélicos nos últimos anos. A participação dos crentes na comunidade quadruplicou saltando de 5%, em 1992, para 20%, nos dias atuais. O levantamento realizado pelo Conselho de Pastores (Conpas) - que leva em consideração os índices repassados pelas lideranças de todas as igrejas - mostra que, em 2002, os evangélicos representavam 13,15% da população do município, ou seja, cerca de 60 mil. Hoje, o número já ultrapassa a marca dos cem mil seguidores, distribuídos em 900 templos e comunidades. Pesquisa recente, focalizada especificamente em jovens de escolas públicas de Minas Gerais e realizada por professores do Departamento de Ciências da Religião da UFJF, revelou que, na cidade, o índice de jovens pentecostais, de 11,6%, está acima da média de Minas (6%) e da média nacional (10,4%), conforme Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de não haver recorte municipal, os dados do IBGE confirmam o crescimento escalonado da comunidade crente, que já é considerada a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a dos EUA. Os números apontam que eles cresceram 2,5 vezes mais rapidamente do que a população na década de 80 e mais de quatro vezes acima da taxa de crescimento populacional na década de 90. Em 1970, o recenseamento constatou uma população evangélica de 4,8 milhões. Em 2000, ano do último censo realizado pelo IBGE, 0 número chegava a 26,1 milhões, representando 15,41% da população brasileira. Em 2005, eram cerca de 33 milhões de fiéis, aproximadamente 18% da população. Ainda segundo as pesquisas do IBGE, nos últimos 60 anos, os evangélicos no país passaram de 2,6% para 15,4%, enquanto a proporção de católicos caiu de 95% para 73,62%.

O boom começou a ser registrado na década de 90 com as igrejas pentecostais, como Assembléia de Deus, Evangelho Quadrangular, Deus é Amor, e com o surgimento das novas pentecostais, como Universal do Reino de Deus, Sara Nossa Terra e Renascer em Cristo. Mas o crescimento se mantém, sobretudo do número de jovens e crianças que, atualmente, chegam a representar 70% do total de fiéis das igrejas.
Pregação contextualizada
Para pastores e estudiosos, a força das instituições evangélicas é facilmente justificável pelo tratamento individualizado, pela pregação contextualizada nos problemas sociais, pelo amparo e assistencialismo aos pobres e pelo louvor contemporâneo, voltado, sobretudo, para a juventude.
Em 2002, a Primeira Igreja Batista contava com 300 membros. Segundo o presidente do Conpas, o pastor Aloízio Penido Bercho, atualmente são 1.500 integrantes. Ou seja, por ano, 300 novos seguidores chegaram à igreja. Os encontros, que aconteciam na sede na Rua Catarina de Castro, precisaram ser transferidos para o ginásio do Sport Club. “Agora, tivemos que comprar um terreno entre o Mariano Procópio e o Vale do Ipê para a construção de um templo que comporte três mil fiéis”, destaca o pastor.
Na Igreja Metodista, apenas no templo central em frente ao Parque Halfeld, o número de fiéis também saltou de 1.100, em 2006, para 1.600 no ano passado, conforme dados de um dos cinco pastores da igreja, Josué Menezes. “O crescimento é perceptível. O ser humano tem necessidade de ensinamentos religiosos e, quando, a partir do Evangelho, começa a enxergar os planos de Deus para sua vida, não deseja mais sair.”
Teologia da prosperidade
Para os especialistas, uma das vedetes dos ambientes neopentecostais é a teologia da prosperidade. “A doutrina originada dos redutos da chamada igreja eletrônica norte-americana. As mesmas são articuladas pela afirmação da crença na vitória e na conquista, por um grande apelo emocional e aposta na mudança de vida”, afirma o professor de sociologia do Instituto Granbery Rogério Ferreira do Nascimento, doutorando em Pentecostalismo e Trabalho.

Novos meios de participação religiosa
Para o professor Rogério Ferreira do Nascimento, a percepção geral é a de que Juiz de Fora reflete a experiência nacional. “Há um crescimento dos evangélicos e em especial dos grupos pentecostais e neopentecostais. É só fazer um exame em certos bairros e é fácil observar o número de igrejas evangélicas em comparação com católicas. No Monte Castelo, por exemplo, o índice é de uma católica para oito evangélicas. Outros bairros seguem a mesma média.”

Segundo o estudioso, o pentecostalismo, desde suas origens, tem criado novos meios de articulação e participação religiosa dos fiéis e, assim, uma nova igreja. “Isso é observável nos aspectos litúrgicos, com o desenvolvimento de um ritual mais dinâmico, com músicas alegres, mais próximas do cotidiano dos fiéis; nos aspectos pastorais, com a expressão da palavra livre - todos podem pregar e orar; e nos aspectos associativos, com a formação de amplas redes de amparo e ajuda.

Enquanto se diz que setores intelectualizados de esquerda da Igreja Católica no Brasil fizeram a chamada opção pelos pobres (Teologia da Libertação), observa-se na prática, que os pobres, ao contrário, fizeram opção pelo pentecostalismo”, resume o professor, ressaltando que a livre interpretação da Bíblia, que, segundo ele, seria uma herança do protestantismo, permite o surgimento de novas igrejas.

Conquista de adeptos jovensAs igrejas protestantes vêm conquistando um número elevado de adeptos jovens. Em algumas, como na Comunidade Igreja em Células, 60% a 70% dos representantes têm entre 14 e 26 anos. Pesquisa realizada em escolas públicas do estado por professores do Departamento de Ciências da Religião da UFJF revelou que, no município, o índice de jovens pentecostais está acima da média de Minas Gerais e da média nacional, conforme Censo 2000 do IBGE.

“Em Juiz de Fora os pentecostais representam 11,6%, enquanto em Minas, o índice é de 6%. O número também está acima da média nacional dos pentecostais no país (10,4%), conforme o IBGE. Isso indica que Juiz de Fora radicaliza a média dos jovens mineiros e da população mineira (estado com alto número de católicos) em direção ao perfil do Rio e da média nacional (tem menos católicos, mais pentecostais e sem religião que o resto de Minas). É como se o município estivesse ‘na metade do caminho’ em relação ao Rio, que é o estado mais pluralista em termos religiosos do Brasil”, comenta o professor doutor Marcelo Camurça, da UFJF.

A explicação dos evangélicos jovens, mesmo com histórias de vida diferentes, é de que são atraídos pela busca do saber bíblico e têm encontrado nas igrejas a resposta para muitos dos problemas da atualidade. Há dois anos, a jornalista Carolina Lima, 27 anos, sofria de depressão. “Sonhava muito, tinha muitas expectativas, mas não conseguia transformar esses sonhos em realidade. Estava noiva na época e, no meio de todo esse processo, rompemos. Fiquei muito abalada e agia de forma compulsiva. Vivi um processo de auto-destruição. Por meio de uma amiga, comecei a fazer estudo bíblico e conheci a Igreja Batista, onde fui acolhida com amor. Em dezembro de 2006, fui batizada e hoje vejo o quanto minha vida mudou. Eu era uma pessoa antes do encontro com Deus e hoje sou outra”, relatou a jornalista, destacando “a enxurrada de coisas boas” que aconteceram após sua conversão. “Consigo traçar planos, a depressão acabou, reatei o namoro, estou trabalhando no que gosto. Tenho nítida a visão de que hoje eu posso tudo, mas posso tudo com e em Deus.”

Testemunhos como o da jornalista são comuns entre os evangélicos jovens, que independente da denominação das igrejas, buscam, juntos, o entendimento da palavra de Deus, em reuniões da Aliança Bíblica Universitária (ABU), que acontecem todas as sextas-feiras, à noite, na Igreja Metodista Central. “É uma troca de informações constante”, diz a presidente da ABU, Manueli Magalhães.

Para o professor Rogério Ferreira Nascimento, a forte relação dos jovens com os templos evangélicos está na afinidade da juventude com os cultos e no espaço que encontram nessas igrejas. “Os jovens procuram novos espaços dentro da sociedade. E as igrejas evangélicas e pentecostais têm criado significativamente espaços para a expressividade desse grupo. Eu diria que os católicos também têm avançado nessa questão.”

Desinformação
Filho de metodistas, o estudante de medicina Felipe Brum Braga Gomes, 23, explica que o preconceito ainda existe por falta de informação. “Alguns dizem que não podemos ir à festas, mas não é bem assim. Somos livres para fazer tudo, mas nem todas as coisas nos são convenientes. Não vou para um lugar onde haja exaltação do consumo de bebida alcóolica, drogas ou prostituição, mas por escolha, por saber que isso não convém ao Cristianismo. O Evangelho não visa, de modo algum, a cercear a liberdade, mas orienta a usá-la de forma correta.”

Rogério Nascimento acredita não haver ligação entre o crescimento das igrejas e a desinformação das classes menos favorecidas. “Acredito que a população pobre não é tão ingênua e ignorante assim. Essa população precisa se expressar, ser reconhecida, se sentir valorizada, e, na maioria das vezes, os canais tradicionais estão fechados. A abertura da Igreja Católica é recente. O Estado chega muito lentamente a essas populações.”

Acolhimento e emancipação espiritual O dinamismo dos cultos, o acolhimento e a proximidade com os líderes são os fatores apontados pelos crentes como importantes no crescimento das novas igrejas. Foram essas causas que motivaram a estudante de serviço social Arléia Mendes, 21 anos, a se converter para a Comunidade Igreja em Células. Ela estava entre os cerca de 30 adolescentes e jovens que, no final do mês passado, participaram do ritual de emancipação espiritual Bat Barakah, denominação que significa “filho(a) da benção”.

O ritual que, segundo o pastor Ronaldo Bertoletti, representa a passagem dos jovens para a vida adulta espiritual, foi marcado por música - tocada por grupo com baixo, guitarra, violões e baterias - e dança coreografada. Além dos cultos no templo, a igreja é composta por células, que realizam encontros informais em escolas, casas e locais de trabalho dos membros preparados para este fim. O chefe da comunidade explica que a divisão relembra o retorno às origens do Cristianismo, quando as reuniões eram nas casas dos apóstolos, antes do início da construção dos templos. “Dessa forma, cada crente é um líder, e cada casa é uma igreja.” O objetivo é facilitar o contato de novos adeptos, quebrando a resistência que muitos têm aos cultos evangélicos, e divulgar a palavra de Deus.

Desde 2002, quando foi inaugurado o templo, até hoje, houve um crescimento de 50% da comunidade em Juiz de Fora. No total, são 150 células espalhadas pela cidade e uma média de 1.500 fiéis.




























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